28.8.06

Mas Quê Mário?

Reativando essa leguminosa com um texto compridinho e já há algumas semanas encaixotado.


Qualquer leitor da MAD pouco aprofundado nas lides da adultidão sabe quem é Mário Annuza.

Para quem não preenche o pré-requisito: alguns anos atrás, um mero leitor novaiguaçuense (deus!) alcançou certa fama entre o grupo altamente seletivo de leitores da MAD. Esse leitor se chamava – creio que não tenha trocado o nome - Welberson. Esse Welberson, após anos comprando a revista e mandando muitas cartas por mês para a, obviamente, Seção de Cartas, passou a vê-las publicadas. Com vontade redobrada, enviou cartas numa intensidade e volume ainda maior, na alucinada esperança de conseguir uma aproximação com o Editor Ota (e um emprego, como o fazem todos os leitores da MAD). Ota, então, passou a estimular Welberson, publicando suas cartas, dando voz ao coitado e debochando, esculachando e satirizando o conteúdo das cartas e também a própria pessoa de Welberson, agora transformado quase que num personagem estereotipado da revista.

Com o passar do tempo, foi-se criando em torno de Welberson toda uma mitologia, com vários elementos a serem trabalhados: o nome incomum; as fotos que mandava, de pouca nitidez e reforçada nessa característica pela impressão e pelo papel da MAD; a esquizofrenia e ignorância carnavalescas expressa nas cartas; e, acima de tudo, uma entrevista num programa jô soares uma e meia da madrugada de meio de semana no último bloco. Visto por poucos que, porém, se incumbiram da tarefa de escrever para a revista suas impressões nada acolhedoras. Publicadas, confirmaram Welberson como assunto comum do Editor da revista, dos leitores e, é claro, dele mesmo.

Essa foi uma estratégia bem pensada pelo Ota, já que, além de criar um personagem fixo da Seção de Cartas em meio às piadas habituais com variados leitores, criou um “cabo-comercial” que, se não era eficiente, era esforçado em tentar convencer amigos, familiares e conhecidos a comprar a revista. Fora o fato de que sempre procurava fazer novas amizades – algo parecido com o Boça do H&R -, e nessas conversas a MAD acabava sempre sendo um dos temas. Bem, não sei até que ponto ter Welberson como modelo de leitor da MAD colabora com algo, mas em todo caso...

Pois imaginando aquele reconhecimento como grande honra, outros leitores de MAD começaram a enviar cartas alucinadamente e a procurar participar mais ativamente da Seção de Cartas, que, antes da internet, e, mais especificamente, do orkut, era o único ambiente de aproximação, contato e convívio dos leitores da MAD, grupo que se caracteriza por ser pouco numeroso e esparso, porém - talvez como conseqüência dessas duas características – fanático. Outros leitores-personagens da revista surgiram, ficando ao cargo do Ota criar possíveis estereótipos a serem utilizados em cada piada com a cartinha ou e-mail.

Aí que entra um cara chamado Mário Annuza. Sabe-se-lá qual trauma infantil despertou nesse sujeito a sanha demonstrada pelo seu inabalável incentivo aos serviço de Correios brasileiro. Completamente obcecado com a idéia de quebrar todos os recordes possíveis para um leitor, iniciou uma trajetória de escritura e envio de cartas assustadora. Assumindo uma identidade megalômana de, exatamente, maior enviador de cartas da MAD e, se bem lembro, Imperador do Universo e DEUS, passou a ser publicado pelo Ota num contraponto em relação ao Welberson. Foi a gênese de uma disputa entre Welberson e Annuza, com os dois mandando cada vez mais cartas, cada um sempre tentando fazer prevalecer uma suposta superioridade intelectual, moral, estética e/ou psicológica.

Essa disputa entre os dois durou algum tempo, mas os detalhes infelizmente não são de meu conhecimento, já que por algum tempo a MAD deixou de chegar em minha cidade. Minha hipótese acerca do motivo que causou essa pausa gira em torno do outro leitor da revista que conheço em minha cidade. Conheci ele um dia na banca e comentamos que talvez fôssemos os dois únicos leitores de MAD da cidade – teoria gerada pelo fato de sempre haver apenas dois exemplares na banca.

Algum tempo depois, exatamente na época em que a MAD parou de circular por esses lados, fiquei sabendo que esse outro leitor havia sido atropelado e estava em coma. Permaneceu alguns meses em coma, e, um mês após ter voltado à vida, agora barbudo e vidrado em armas de fogo, voltaram também as duas MADs. Encontrei-o dia desses, e quando comentei que as MADs não estavam vindo durante seu coma e ele apenas disse: “É, tudo parou...”.

Nessa época, retornando ao convívio com a revista de papel-higiênico, notei a ausência do Welberson e a existência de uma espécie de Coluna do Annuza. Ali ele relatava seu dia, descrevia idéias ou piadas e louvava a MAD. Era extremamente sem-graça, algo como um filme solo de um personagem secundário de um filme de sucesso, feito apenas para alavancar a carreira do ator. Ali nessa coluna ele demonstrou toda a falta de noção de ridículo que acomete os leitores da MAD. Como ninguém suporta sujeitos assim, a coluna do annuza pouco durou.

Agora, anos passaram, o Ota, para espanto de todos e gritinhos de “Sacrilégio!”, não é mais editor da MAD Brasil, o orkut reúne os cinco mil leitores de MAD em comunidades (coincidentemente mesmo número de integrantes da comunidade Odeio Papel higiênico lixa) e Welberson, Annuza e até mesmo o leitor japonesinho Gustavo Kfouri são nomes do passado, esquecidos, lembrados com os nomes trocados, citados em esporádicos momentos saudosistas, etc.

Isso até alguns dias atrás, quando, produto de algum impulso inexplicável, visitei a comunidade MAD Magazine e encontrei um tópico sob o título Eu sou o Mário Annuza.

Sem demoras abri o tópico e vi, com esses olhos que um monitor há de corroer, Mário Annuza, o próprio, redivivo, glorioso, imponente e imbecil, deixar a seguinte mensagem:

“Gente, eu agora tenho Orkut. Tem gente que pensa que eu não existo, mas eu existo e estou aqui. Mário Vinicius Annuza Duarte, o leitor que mais escreveu e ainda escreve cartas para a revista MAD. Abraços em todos,

Mário Annuza”

Eis toda uma época, uma vida, uma personagem, expressa em não mais que 47 palavras!

Note a feliz ostentação do título de recordista e a humilde megalomania do “Quem quiser, pode me mandar recados.”. Em busca do reconhecimento que considera esperado e merecido, Mário criou esse tópico no dia 23 de julho de 2006.

Dia 10 de agosto de 2006, a única resposta que o desiludido Mário havia arrebanhado foi um, literalmente, “que Mário?”, escrita por um malicioso Joselito.

Inconformado e apiedado diante de tal desolação pela qual deveria estar passando aquele que viveu o mesmo sonho e mesma época que eu, me embrenhei em seu profile para buscar mais informações sobre os rumos que tomou sua vida. Descobri que tem poucos amigos, que sua descrição é uma música de Chico Buarque, músico tema de três das nove comunidades que participa, e que as outras comunidades são sobre Tom Jobim, Nelson Gonçalves, Francisco Alves, Cairo de Assis Trindade e... HISTÓRIA e ENSINO DE HISTÓRIA!

História e Ensino de História! História e Ensino de História!

Não sei se seria normal um sujeito desses se interessar em estudar História, mas tenho certeza que é aterrador, grotesco e bizarro o fato de eu também ter escolhido estudar História e fazer essa faculdade. Isso após os anos de convívio de MAD e os anos de distância e isolamento entre eu e ele.

É difícil associar a mongolice do Mário à minha mongolice, mas a análise do nosso percurso Anos de MAD – História é algo que irreparavelmente temos em comum.

Alguns diriam “é o destino, pequeno skywalker”.


Eu diria “chupa a minha rola e não deixa esse retardado se aproximar!”.

13.8.06

Watchmen

Rolando debate na comunidade Watchmen sobre o filme-adaptação da HQ.
O título do tópico era, para se ter uma idéia, "Tomara que este filme nunca saia...".
Lá pelas tantas no debate que se formou, entre opiniões pessoais e ofensas imorais, o assunto sétima arte/nona arte entrou na roda.
Dei minha intrometida opinião que reproduzo aqui, embaixo, agora.
Sem permissão do orkut.

Sou súper rebelde.

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Uma HQ é uma HQ e um filme é um filme.

Um filme pode se apropriar da estrutura narrativa, dos personagens e principalmente do nome de uma HQ. E continuar sendo um filme. E não uma HQ.

Um filme baseado em HQ é uma projeção luminosa de imagens em movimento da stória ou da estética ou da ideologia da HQ. É um filme, e, como filme, tem certas limitações em relação à HQ, sendo a principal delas o TEMPO. Enquanto uma HQ - assim como um livro - pode ser absorvida em doses maiores ou menores em períodos de tempo curtos ou longos, o filme é um acontecimento instantâneo, dinâmico e com uma duração pré-definida.

Desse modo, a HQ - assim como um livro - tem um poder, uma capacidade de abrangência muito maior com possibilidades de entrelaçamento de elementos também muito maior.

O filme, com sua duração definida, tem sua própria linguagem, suas próprias capacidades e peculiariedades.

O filme baseado em HQ pode ser fruto da admiração de um Autor (diretor, roteirista, até mesmo produtor - em algumas ocasiões) pela obra HQ e pode também ser apenas um meio de exploração comercial (a maioria das pessoas consideram precisar de dinheiro para sobreviver bem e feliz), um investimento objetivando o lucro através da re-rotulação de um objeto (HQ Watchmen) para a transformação em produto a ser consumido (Watchmen - The Movie, p.ex.).

Geralmente, os segundos contratam os primeiros e garantem um mínimo de sintonia entre uma obra e outra. A HQ continuará sendo a HQ, e o filme será um filme. Considerar o filme como A Verdade a respeito de Watchmen é menosprezar a HQ. E muito.

O filme é o filme e a HQ é a HQ.


Se a versão filme ficar ruim e não agradar, daqui a anos um outro alguém fará uma nova versão. Essa é outra capacidade, bem-vinda, do cinema, e a única preocupação que se deve ter é a de não sobreviver até lá.

10.8.06

Fim de um, começo de outro.

Aqui, logo abaixo, o último post de um outro brógue.
E eis que numa brincadeira ele acordou:


Em cada dedo, uma falange.

O vento petrifica a mão, congelante.

O cansaço e a inconsciência falante.

A vontade num fio - de barbante.

A fadiga e os oníricos poderes mutantes.

O topo próximo.
Rápido como um elefante.

Perna e braço rastejando.
A cobra farsante!

O deslize abre a porta para a morte iniciante.

Pedra traiçoeira.
Fura, corta e rasga, como diamante.

Sangue e gelo num só.
A montanha, sua amante.

O cansaço e o delírio: Aqui, meu palácio inebriante!

A entrega, o fim da resistência ofegante.

A felicidade, enfim, durante um instante.

O olho a fechar num ritmo constante.

A alma se extinguindo, flamejante.

Um último batimento, pujante.

O fim no berro.



E eis desperto O Gigante Deus Avalanche.

É Brógue.

É Brógue.
É o quê?
Brógue.
E vai acontecer o quê? Morte?
Vai ter escritos.
De folcróre?
Não, de Brógue!
E vai ser todo dia?
Se Deus quiser e Nossa Ave Maria.
E vai fica vivo quanto tempo?
Aí só quem sabe é o Nazareno.
Devia ter mulher de cróque.
E vai. Dançando pagode
Quando?
Tá chegando: dia de São Róque.